quarta-feira, janeiro 31, 2007

Barbie - Como reproduzimos nosso consumismo em nossas filhas


Barbie

Rubem Alves

Fiquei comovido quando li que foram encontradas bonecas em túmulos de crianças no Egito, na Grécia e em Roma. Pude imaginar o que os pais deveriam estar sentindo ao colocar aquele brinquedo junto ao corpo da filha morta. Eles o faziam para que ela não partisse sozinha, para que ela não tivesse medo.

De fato, uma criança abraçada a uma boneca é uma criança sem medo, uma criança feliz. Os meninos, proibidos de ter bonecas, se abraçam aos seus ursinhos de pelúcia. E nós, adultos, proibidos de ter bonecas e de ter ursinhos de pelúcia, nos abraçamos ao travesseiro... Os objetos são diferentes, mas o seu sentido é o mesmo: o desejo de aconchego e de ternura.

Por isso eu acho que o senhor e a senhora fizeram muito bem ao dar uma boneca de presente para a sua filhinha.

Com uma exceção, é claro: se a boneca não foi a Barbie.

Porque a Barbie não é uma boneca. Falta a ela o poder que têm as outras bonecas, bebezinhos, de afugentar o medo e provocar sentimento maternais de ternura. Não posso imaginar uma menina dormindo abraçada à sua Barbie. Nenhum pai colocaria a Barbie no túmulo da filha morta.
A Barbie não é boneca. É uma bruxa.
Posso bem imaginar o espanto nos seus olhos.
Eu imagino também os seus pensamentos: O Rubem perdeu o juízo. A Barbie é unta boneca de plástico, não mexe, não pensa, não fala. E agora ele diz que ela é uma bruxa...
Que as bonecas, ao contrário das aparências, têm uma vida própria, eu aprendi no 2° ano primário. Minha professora me deu um livro sobre bonecas e bonecos: enquanto a gente estava acordado, elas ficavam deitadinhas, olhinhos fechados, fingindo que dormiam. Mas bastava que os vivos dormissem para que elas acordassem e se pusessem a falar coisas.

As bonecas foram os primeiros brinquedos inventados pelos homens.
E foram também os primeiros instrumentos de magia negra. Um alfinete, aplicado no lugar certo de uma boneca – assim afirmam os entendidos – tem o poder de matar a pessoa que se parece com ela.
Pois eu digo que a Barbie é uma bruxa.
Bruxa enfeitiça.
Enfeitiçada, a pessoa deixa de ter pensamentos próprios. Só pensa o que a bruxa manda. A pessoa enfeitiçada fica possuída pelos pensamentos da feiticeira e só pensa e faz aquilo que ela manda.
Se falo é porque vi, com esses olhos que a terra há de comer.
Basta que as crianças comecem a brincar com a Barbie, para que fiquem diferentes.
O pai manda, a mãe manda, a criança faz birra e não obedece. Não é assim com a Barbie. Basta que a Barbie mande para que elas obedeçam.
De novo você vai me contestar, dizendo que a Barbie não fala e não tem vontade. Por isso não pode nem dar ordens e nem ser obedecida.
Errado.
O fantástico é que ela, sem falar e sem ter vontade, tenha mais poder sobre a alma da criança que os pais.
Quem me revelou isso foi o futurólogo Alvin Toffler, no seu livro O Choque do Futuro, que li em 1971. O capítulo "A Sociedade do Joga-Fora" começa com a Barbie. Nascida em 1959, em 1970 mais de 12 milhões já tinham sido vendidas. Um negócio da China. E por quê? Porque a Barbie, diferente das bonecas antigas, bebês que se contentam com uma chupeta e um chocalho, tem uma voracidade insaciável.

A Barbie é uma boneca que nunca está contente: ela sempre pede mais. E essa é a grande lição que ela ensina às crianças: Compra, por favor!
Para se comprar há as roupas da Barbie, a banheira da Barbie, o secador de cabelo, o jogo de beleza, o guarda-roupa, a cama, a cozinha, o jogo de sala de estar, o carro, o jipe, a piscina, o chalé de praia, o cavalo e os maridos, que podem ser escolhidos e alternados entre o loiro e o Moreno etc. Etc.
A Barbie está sempre incompleta. Portanto, com ela vem sempre uma pitada de infelicidade.
Aliás, essa é a regra fundamental da sociedade consumiste: é preciso que as pessoas se sintam infelizes com o que têm, para que trabalhem e comprem o que não têm.
A Barbie tem esse poder: quem a tem está sempre infeliz porque há sempre algo que não se tem, ainda.
E os engenheiros da inveja, a serviço das fábricas, se encarregam de estar sempre produzindo esse novo objeto que ainda não foi comprado. Mas é inútil comprar. Porque logo um outro será produzido. É a cenoura na frente do burro... Ela nunca será comida.
Quem dá uma Barbie para uma criança põe a criança numa arapuca sem saída.
Porque, ao ter uma Barbie, ela ingressa no Clube das Meninas que têm Barbie.
E as conversas, nesse clube, são assim: Eu tenho o chalé de praia da Barbie. Você não tem. Ao que a outra retruca: – Não tenho o chalé, mas tenho o marido loiro da Barbie, que você não tem.
1 - Essa é a primeira lição que a inofensiva boneca de plástico ensina. Ensina a horrível fala do eu tenho, você não tem. A maldição das comparações. A maldição da inveja.
Você deve conhecer alguns adultos que fazem esse jogo.
Haverá coisa mais chata, mais burra, mais mesquinha?
Ao dar uma Barbie de presente é preciso que você saiba que a menina inevitavelmente aprenderá essa fala.
Isso feito, uma segunda fala entra inevitavelmente em cena, impulsionada pelas ilusões da inveja.
2 - A menininha pensa: Estou infeliz porque não tenho. Se eu tiver, serei feliz.
O jeito de se ter é comprar.
_ Papai...
– Que é, minha filha?
– Compra o chalé de praia da Barbie? Eu quero tanto...
Filha na arapuca. Pai na arapuca.
Mas há uma saída.
E, para ela, procuro sócios.
Vamos começar a produzir o próximo e definitivo complemento para a bruxa de plástico: urnas funerárias para a Barbie.
Por vezes o feitiço só se quebra com o assassinato da feiticeira – por bonitinha que ela seja...

terça-feira, janeiro 30, 2007

Professora acusa Record no Fala Que Eu Te Escuto « Blog Internacional - Direto ao Ponto

Professora acusa Record no Fala Que Eu Te Escuto « Blog Internacional - Direto ao Ponto

Discriminação religiosa é crime! Onde está o Ministério Público?

O Processo de Ser - Vivência em Grupo


“Todo ser vivo está em processo, que é simplesmente o fluxo, o curso de sua jornada de vida. Tais processos são tanto arquetípicos - compartilham padrões comuns a todos os seres, tais como gestação, nascimento, morte e ressurreição - quanto exclusivos de cada ser em particular.”

Allan Kaplan (Artistas do Invisível)


O objetivo dessa vivência é tornar consciente o processo de ser de cada um, para que o indivíduo torne-se responsável pela sua própria evolução, em vez de apenas sujeitar-se a ela.

Em todos os mitos e contos de fadas há um momento em que o herói ou a heroína percebe um chamado e inicia uma aventura da qual voltará transformado(a). Assim também ocorre na vida, afinal os mitos e contos de fadas são somente representações do que passamos na vida.
Este é um chamado para uma aventura para dentro de sua própria história de vida, que terminará trazendo à tona um melhor conhecimento daquilo que você é, de suas qualidades e fragilidades, permitindo que você elabore esses elementos e dê um novo rumo à sua vida.

As atividades visam a equilibrar as três esferas do ser: o pensar, o sentir e o agir. Para isso, lançamos mão de atividades artísticas e corporais e da fala.

Coordenação: Marcelo Guerra, médico
Rama Krisna Moura de Jesus, professor
Formação de novos grupos em Nova Friburgo e no Rio de Janeiro. Encontros mensais, sábados pela manhã (em Nova Friburgo) e 4ªs feiras pela manhã (Rio de Janeiro) . Início em 3 de março de 2007, às 9h (Nova Friburgo).

VAGAS LIMITADAS (até o momento só restam 3 vagas)

Investimento: R$80,00 por mês
Informações e inscrições: (22) 92544866

I CHING


A revista Super Interessante de Janeiro/2007 publicou excelente matéria sobre esta sabedoria milenar chinesa.

Zero, um, zero, zero, um, um. Sem esses dois números em combinações intermináveis, o mundo de hoje seria chatíssimo. Eles formam o código binário, usado por todo computador que existe para transmitir trilhões de dados dia a dia, guardar toda uma vida numa caixa postal de e-mail e deixar íntimas pessoas que moram a milhares de quilômetros de distância. Esse sistema foi cunhado no século 18 pelo matemático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, mas sua origem, segundo o próprio Leibniz, é muito mais antiga. Está em um livro chinês de adivinhação e consulta espiritual que guardaria a verdade universal, seria uma miniatura do infinito e a chave para o funcionamento do Universo: o I Ching, o Livro das Mutações.

Com pelo menos 3 mil anos de existência, o I Ching se baseia na idéia de mutação contínua, regida pela soma das forças cósmicas do yin (a sombra) e do yang (a luz). O livro caminhou junto com a história da China. Ajudou a criar religiões orientais, como o taoísmo, foi a principal fonte de inspiração do pensador chinês Confúcio e serviu como elemento unificador do país durante o século 3 a.C. Também deixou herança não apenas na matemática ocidental. "O I Ching está mais ligado ao inconsciente que à atitude racional da consciência", escreveu em 1949 o psicanalista Carl Jung, que usava o livro em sessões de análise. Para o físico Niels Bohr, a obra está na raiz da física quântica, um dos principais pilares da ciência atual. Com você, a história do livro mais antigo do mundo.

A lenda
Certo dia, lá pelo ano 3000 a.C., Fu Hsi, o primeiro imperador da China, passeava pelas margens do rio Amarelo, no norte do país. Contam as lendas que Fu Hsi não era apenas um soberano sábio, mas também o homem que inventou a escrita, o matrimônio e a arte da costura. Naquele dia, caminhando pela beira das águas, o imperador multimídia fez sua descoberta mais intrigante. No meio do passeio, FuHsi viu uma criatura emergir das águas para descansar às margens do rio: corpo de dragão, cabeça de cavalo (os mitos garantem que bichos fabulosos eram corriqueiros na fauna chinesa). Aproximando-se, o sábio notou que havia 8 símbolos geométricos inscritos nas costas da criatura. Cada imagem era composta por séries de 3 linhas: algumas inteiras ( - ), outras partidas (- -), como você pode observar nestas páginas. No momento em que colocou os olhos neles, o soberano teve uma iluminação divina. Achou que aqueles signos continham a chave para todos os segredos do Universo. Memorizou a seqüência de símbolos - que mais tarde seriam batizados de "trigramas" - e os deixou para seus descendentes e sucessores, com uma dica: quem os estudasse ganharia o poder e o conhecimento sobre todas as coisas.

Em algum momento da Antiguidade, os trigramas foram combinados uns com os outros e deram origem a 64 símbolos formados por 6 linhas - os hexagramas. Ao longo dos séculos, os 64 símbolos ganharam comentários e foram organizados em forma de livros - e os livros guardados a sete chaves nos palácios dos reis e nas bibliotecas de feiticeiros e eruditos. Os chineses levavam ao pé da letra (e alguns ainda levam) a tradição que herdaram de seus ancestrais remotos: naquela obra, estaria a solução para todas as equações do Universo.

Segundo historiadores antigos, como o chinês Sima Quien, que viveu uns 200 anos antes de Cristo, o I Ching teve 4 autores - e Fu Hsi foi apenas o primeiro deles. Hoje, a maior parte dos estudiosos coloca em dúvida a existência de Fu Hsi. "Quando atribuem a ele a origem dos hexagramas, os chineses querem dizer, simplesmente, que os símbolos são mais antigos que toda a memória histórica", escreve o sinólogo alemão Richard Wilhelm, no prefácio de sua tradução do I Ching, publicada na Europa em 1923. Entre 3000 e 2000 a.C., os 64 hexagramas foram compilados em forma de livro - na época, um "livro" era um feixe de tábuas de bambu amarrados pela extremidade, já que o papel só surgiria na China durante o século 2. Nessa forma, o "livro" passou com registros históricos confiáveis à 1ª dinastia - os Shang, que reinaram de 1600 a.C. a 1070 a.C.

Em diversos impérios que ocupavam o território da atual China, ninguém questionava o poder dos hexagramas - mas a maneira de interpretar sua sabedoria oculta variou imensamente. O significado dos trigramas era relativamente simples: cada um representava, ao mesmo tempo, uma característica da natureza (céu, terra, trovão, água, montanha, vento, fogo e lago) e um traço da psique (criatividade, abrigo, agitação, melancolia, constância, flexibilidade, iluminação, serenidade).

Dois símbolos combinados, por outro lado, eram enigmáticos. Muitas das interpretações inventadas para decifrá-los foram acrescentadas ao livro - o I Ching, como o conhecemos hoje, são os 64 símbolos misteriosos mais um calhamaço de comentários feitos durante 6 séculos, pelo menos. O problema é que as tais explicações, na maior parte das vezes, são tão confusas que só aprofundam o mistério. Experimente, por exemplo, abrir o livro logo na primeira página - você vai encontrar um hexagrama chamado Chien ("O criativo"). Logo abaixo, diversas interpretações escritas em forma de verso, por volta do século 11 a.C. Primeiro, uma frase corriqueira: "Sucesso. A perseverança recompensa". Logo adiante, o seguinte imbróglio: "Vôo hesitante sobre as profundezas. Subitamente, você vê uma revoada de dragões sem cabeça". Deu para sentir o drama, não?

Apesar da dificuldade de entender esses provérbios, chineses de todas as classes - desde os plebeus que aravam os campos até os reis e generais que comandavam exércitos - consultavam o livro na hora do aperto. A consulta seguia um ritual complicado: 50 caules de uma planta chamada milefólio eram várias vezes chacoalhados e lançados sobre uma mesa. A posição das varetas dava origem a uma seqüência numérica que por sua vez indicava um dos 64 hexagramas. E os sábios chineses interpretavam cada um como conselho divino, uma chave para entender os acontecimentos presentes e a melhor maneira de agir no futuro.

A filosofia chinesa encarava o Universo como uma massa de energia em constante transformação - e os 64 símbolos seriam retratos de padrões cósmicos que se repetem e se alternam constantemente. Esses padrões ou estágios de metamorfose ocorrem tanto na mente humana e nas relações sociais quanto nos fenômenos da natureza - ou seja, abarcam tudo, desde os problemas domésticos de um camponês até o movimento das galáxias. Daí o primeiro nome do livro, que na época era apenas I, "Mutações".

Para entender a essência de cada hexagrama, é preciso desmontá-lo: a chave dos símbolos está nas linhas que os compõem. "Linhas inteiras representavam o céu, enquanto linhas interrompidas indicavam a terra", explica o monge budista Gustavo Alberto Corrêa Pinto, que traduziu o I Ching para o português na década de 1980. Na China antiga, acreditava-se que a Terra estava parada no centro do Universo, enquanto o céu, com seu séquito de constelações, nuvens, pássaros e meteoros, movia-se ao redor dela. Do céu vinham a luz e a chuva, que fecundavam o solo e davam origem à vida. Por isso, a linha inteira significa o elemento ativo, luminoso, masculino do Universo; a linha quebrada era o feminino, o escuro, o repouso.

Com o tempo, essas energias opostas, mas complementares, ganharam nomes próprios (e foi com esses nomes que se tornaram notórias no Ocidente, milhares de anos depois): yang e yin. As duas palavras significam, literalmente, o lado sombrio e o lado iluminado de uma montanha. Em termos filosóficos, elas simbolizam todos os opostos que formam o mundo. Cada hexagrama seria uma combinação de luz e sombra, macho e fêmea, ação e imobilidade, ímpeto e paciência, yin e yang- formando uma dança cósmica de opostos que rege o Universo.

Até os tempos da dinastia Shang (por volta dos séculos 18 a 11 a.C.), os adivinhos que estudavam o I não colocavam suas interpretações por escrito. O livro era só uma coleção muda de símbolos mágicos, sem nenhuma notinha de rodapé. Os primeiros textos explicando a natureza de cada "mutação" foram compostos nos últimos anos da dinastia Shang, em meio a intrigas políticas e guerra civil.

Segundo a lenda, Chou Hsin, o último imperador Shang, que reinou em meados do século 11 a.C., era famoso como pinguço proverbial e temido por sua terrível crueldade. Os nobres do reino, cansados dos seus shows de horrores, tramaram a queda do déspota. O líder da conspiração era um certo conde Wen, que governava uma província no noroeste da China (por coincidência, a região tinha o mesmo nome do soberano doido Chou). Durante algum lapso de sobriedade entre suas ressacas homéricas, o imperador foi informado da tramóia. Não deu outra: Wen foi preso e jogado no calabouço. Nas sombras da prisão, o conde rebelde se tornou o segundo autor do Livro das Mutações.

Wen aparece nas lendas como um sábio versado nas artes da profecia. Segundo o historiador Ma Rong, do século 2, o conde passava o tempo na prisão meditando sobre o significado dos símbolos. Resolveu preservar suas interpretações para a posteridade: batizou cada hexagrama com um nome, resumindo suas características essenciais. O primeiro hexagrama, formado apenas por linhas inteiras ou yang, chamou-seChien, o criativo. O segundo, só com linhas quebradas ou yin, foi batizado de Kun, o receptivo. Os demais símbolos, que são uma salada mista de yang e yin, ganharam nomes como Conflito, Paz, Estagnação e assim por diante. Além disso, Wen escreveu textos em forma de poemas, que mais tarde foram acrescentados ao corpo do livro, com o nome de Julgamentos - e lá estão até hoje. Os versos de Wen contêm conselhos curtinhos - dignos daquelas mensagens em biscoitinhos da sorte ou horóscopos. O texto do hexagrama 4, por exemplo, diz: "Se você é sincero, terá luz e sucesso".

Após 7 anos de prisão, Wen voltou a ver a luz do dia. Assim que botou os pés fora da cadeia, passou a conspirar contra o soberano Chou. Retornou à província de Chou, reuniu exércitos, cativou a lealdade do povo. E, por volta de 1180 a.C., declarou guerra ao imperador. Seus exércitos marcharam contra a capital You-li, mas não rápido o bastante: Wen, que estava velhinho, morreu antes de sentir o gosto da vitória. Os louros couberam a seus filhos, Wu e Dan. Ambos aniquilaram as forças imperiais em batalhas tão violentas que, segundo a lenda, rios de sangue correram pelos campos da China. Chou Hsin foi cercado na capital; vendo que tudo estava perdido, resolveu partir em grande estilo e tocou fogo no próprio palácio. Morreu queimado - com todo seu harém.

Os conquistadores inauguraram uma nova dinastia - que, em homenagem à região, chamou-se Chou. Nos anos seguintes, a China foi governada por Dan, conhecido como duque de Chou. A ligação com o Livro das Mutações devia correr mesmo no sangue da família: enquanto organizava o reino e combatia rebeldes, Dan seguiu os passos do pai e escreveu mais uma batelada de interpretações para os hexagramas. O terceiro autor do I Ching é bem mais obscuro que o segundo. Os textos do duque de Chou (acrescentados ao livro com o título de Imagens) hoje soam quase psicodélicos. Aquelas linhas sobre revoada de dragões sem cabeça, que você encontrou no início da reportagem, são assinadas por ele. Outras pérolas: "Erga o bastão de jade; alguma coisa vai cair do céu" (no hexagrama 44); "A raposa espia: ela vê porcos enlameados se aproximando e uma carroça cheia de fantasmas" (hexagrama 38). Frases que não fariam feio em uma música de Bob Dylan ou num poema dadaísta.

Com o tempo, a língua chinesa mudou, e aqueles versos em estilo arcaico tornaram-se enigmáticos para os próprios chineses. Todas as passagens que reproduzimos aqui, a propósito, são traduções aproximadas. "Depois de alguns séculos, ninguém tinha a menor idéia do que os Julgamentos e as Imagens realmente significavam. Os textos eram tão ambíguos que praticamente qualquer interpretação podia ser dada a eles", escreve o lingüista britânico Richard Rutt no livro Zhouyi: The Book of Changes, de 2002 ("I Ching: O Livro das Mutações", sem edição no Brasil). Hoje, há tantas explicações para as charadas de Wen e Dan quanto há tradutores e estudiosos do I Ching.

O sinólogo Steve Marshall, também britânico, acredita que o enigma tem uma explicação relativamente simples: os versos confusos seriamreferências cifradas a fatos históricos. Exemplo disso é uma linha que o duque de Chou compôs para o hexagrama 55: "O arado é visto ao meio-dia". Segundo Marshall, o tal "arado" era o nome dado pelos chineses a um grupo de 7 estrelas que integra a constelação da Ursa Maior. O texto indicaria um eclipse total do Sol por volta do ano 1070 a.C., que teria escurecido toda a China e feito com que as estrelas brilhassem em pleno dia. Antigas tradições dizem que a queda dos Shang foi anunciada por apavorantes fenômenos naturais na terra e no céu, sinal da ira divina contra o imperador louco - e Marshall acredita que o verso do duque celebra o fato. Os textos do I Ching seriam, portanto, uma espécie de livro de história codificado. "Ele tem uma narrativa oculta por trás de muitas de suas sentenças enigmáticas", escreve ele na obra The Mandate of Heaven: Hidden History in the I Ching, de 2001 ("O Mandamento Divino: A História Oculta no I Ching", também sem edição brasileira).

Os descendentes do conde Wen governaram a China até o século 3 a.C. Foi uma época de ouro: a literatura floresceu, as artes se refinaram. Por volta do século 6 a.C., os hexagramas e suas interpretações já eram considerados o maior clássico da China - ainda que a maior parte das pessoas não entendesse seu significado. A dinastia Chou adotou o livro como uma espécie de manual de governo - tanto que, na época, a obra ganhou um segundo nome, Chou-I, "Mutações dos Chou". Para entender os conselhos de seus prolixos ancestrais, os Chou precisavam de intérpretes bem gabaritados: na corte, havia uma ordem de xamãs cuja especialidade era tirar conselhos administrativos dos hexagramas.Embora o uso "mágico" seguisse em alta, intelectuais chineses voltaram sua atenção para o lado filosófico do livro, deixando de lado o que achavam pura superstição. O grande responsável por essa transição foi, precisamente, o maior filósofo chinês de todos os tempos: Kung Fu Tsé, que no Ocidente ficou famoso pelo apelido latinizado, Confúcio.

Confúcio, que nasceu em 531 a.C., não era um sujeito supersticioso. Mesmo assim, ele passava horas e horas lançando as varetas de milefólio e estudando os hexagramas. "O I Ching o deliciava", afirma Sima Quien em uma biografia escrita 400 anos mais tarde. Confúcio dedicou boa parte da vida à organização e crítica dos grandes clássicos da literatura chinesa, que na época andavam meio espalhados em tomos caóticos. Colocou as obras em ordem e acrescentou-lhes capítulos e comentários. O resultado é a coleção chamada Seis Clássicos Confucianos - obra que todo candidato a sábio devia saber na ponta da língua. Nos séculos seguintes, a leitura dos Seis Clássicos seria requisito para quem quisesse fazer concursos públicos e trabalhar no governo. E o primeiro título da lista, adivinhe qual era? Sim: as Mutações de Chou, que Confúcio rebatizou com o nome que traz até hoje, I Ching.

Segundo Sima Quien, Confúcio foi o quarto autor do I Ching. Escreveu copiosas interpretações para os versos do clã Chou - mais tarde, esses comentários ganhariam o nome de Dez Asas. Ele não buscava oráculos para o futuro nem receitas para tirar ouro da cartola. Era, antes de mais nada, um moralista: acreditava que uma sociedade perfeita só seria construída quando todos os membros de uma nação se esforçassem por cultivar a ética individual. "Nas 64 situações descritas no livro, ele procurava indicações sobre a maneira mais moral de agir em determinadas circunstâncias", explica o sinólogo Mário Spoviero, da USP.

Por exemplo: Confúcio viu no primeiro hexagrama, formado apenas por linhas sólidas, um emblema das 4 maiores virtudes da ética chinesa - amor, respeito à tradição, justiça e sabedoria. Quem encarnasse o hexagrama Chien seria o homem ideal para erguer impérios. "Ele se eleva acima da multidão de seres e todas as terras se unem em paz", escreveu Confúcio.

Os anos passaram, a glória dos Chou ficou para trás e outras dinastias se seguiram - mas o I Ching permaneceu impávido. Na Idade Média (por volta do ano 1070), um filósofo chamado Shao Yong criou uma disposição alternativa para os hexagramas, começando por Kun, o receptivo, e terminando por Chien, o criativo. Segundo ele, essa ordem seguia uma seqüência matemática mais precisa e era a disposição correta segundo os desígnios dos deuses. Séculos depois, a "ordem de Shao Yong" serviu de passaporte para que o I Ching migrasse da filosofia antiga para os braços da ciência moderna.

O I CHING E A CIÊNCIA MODERNA

Hoje, o interesse dos ocidentais pelo I Ching pode ser explicado pelo fenômeno conhecido como pós-modernismo. Em vez de seguir religiões tradicionais que fornecem verdades únicas, cada vez mais se opta por crenças exóticas, sem normas rígidas e que não exigem engajamento. Traços da cultura oriental, como o budismo, o yoga e o I Ching, entram nessa onda, assim como o Santo Daime e seitas neopentecostais. "Desponta um novo caminho da religião que, em muitos aspectos, se afasta dos moldes tradicionais", afirma o teólogo José Queiroz, da PUC-SP.

O contato entre os fenômenos sagrados do Oriente e do Ocidente começou no século 16, quando missionários jesuítas começaram a viajar à Ásia para catequizar os "pagãos". Pouco a pouco, notícias fragmentadas sobre as estranhas maravilhas da cultura chinesa começaram a pingar no nosso lado do planeta.

O primeiro grande cientista europeu a se interessar pela civilização da China foi um cortesão, diplomata e acadêmico alemão do século 17: Gottfried Wilhelm Leibniz (1642-1727). Numa época em que a maioria dos ocidentais nem sabia onde ficava a China, Leibniz tinha uma fonte privilegiada de informações sobre o país - era amigo de um jesuíta francês chamado Joachim Bouvet. Em uma das cartas que enviou a Leibniz de Pequim, por volta de 1699, Bouvet falou de certo livro antiqüíssimo, que segundo os chineses continha a chave para o conhecimento de todas as coisas. Essa era a idéia típica da ciência do século 17: que havia uma chave, uma teoria que explicaria todo o funcionamento do mundo. Em anexo, o jesuíta presenteou o amigo com uma cópia dos 64 hexagramas de Fu Hsi, arranjados na seqüência de Shao Yong.

"Quando viu os símbolos do I Ching, Leibniz ficou quase alucinado, pois sempre havia sonhado com uma ciência que abarcasse todo o Universo", conta o sinólogo Spoviero. Leibniztratou de procurar ligações entre o I Ching e suas próprias investigações científicas. E não é que encontrou? Alguns anos antes, Leibniz havia inventado o sistema binário - aquele que utiliza apenas combinações variáveis de dois dígitos, 0 e 1, para representar todos os números. Sem esse sistema, a civilização digital de hoje em dia não existiria. Após examinar os signos enviados por Bouvet, Leibniz se convenceu de que os 64 hexagramas, na verdade, eram uma primitiva tabela binária. Basta substituir as linhas inteiras pelo dígito 1, e as quebradas pelo 0 - e, em vez de grupos geométricos, surge uma seqüência de números binários com 6 dígitos. Kun torna-se 000000 - o equivalente binário ao número 0 -; Chien, no fim da tabela, vira 111111 - ou seja, 63. Um rudimento neolítico de ciência da computação.

Pode ser só coincidência matemática - assim como as complicadíssimas semelhanças entre os 64 hexagramas e as 64 possíveis combinações de proteínas do código genético, deslindadas pelo alemão Martin Schonberger em The I Ching and the Genetic Code, de 1973 ("O I Ching e o Código Genético", sem tradução no Brasil). Também há coincidência entre o I Ching e a física quântica, que estuda o comportamento da matéria na escala microscópica, ou seja, os átomos e seus pedacinhos - prótons, nêutrons, elétrons. Até o começo do século 19, a ciência ocidental era dominada pela doutrina da física "mecanicista": a matéria era vista como algo morto, imutável. Toda mudança que ocorria no mundo seria resultado de leis criadas por Deus, impostas de cima para baixo, exteriores ao próprio Universo. No século 19, surgiu a idéia de que o mundo sofre um progresso linear, idéia que acabou celebrizada na Teoria da Seleção Natural de Darwin.

No início do século 20, com os estudos de cientistas como Albert Einstein, James Maxwell e Niels Bohr, a coisa ficou ainda mais parecida com o I Ching. As novas teorias pintaram um Universo parecido com o proposto pelosmísticos chineses. Os físicos do século 20 descobriram que as partículas que compõem a matéria estão em perpétua transformação: prótons se convertem em elétrons que se convertem em nêutrons, e assim por diante. O Universo não é algo estático, mas uma massa de energia em constante transformação, uma teia de processos infinitos e dinâmicos - ou mutações. E mais: o fluxo de metamorfoses que domina o mundo subatômico e forma tudo o que existe é regido pela dança de opostos. Os elétrons de carga negativa giram em torno dos núcleos de carga positiva, formando o átomo e o Universo.

Niels Bohr (1885-1962), um dos pais da física quântica, sabia das semelhanças entre sua ciência e certo livro antigo da China. Tanto que, após uma viagem ao Oriente em 1937, incluiu no brasão de armas de sua família o tai chi - aquela esfera metade escura, metade clara, símbolo da interação entre yin e yang. "Lendo o I Ching, ele se inspirou para elaborar muitos conceitos fundamentais da física quântica", escreve o biólogo molecular Johnson Fa Yan em O DNA e o I Ching. Bohr ajudou a derrubar a noção de que as leis que regem o Cosmos são independentes da matéria - em vez disso, hoje se acredita que essas leis emanam da própria energia em mutação que forma o mundo. Idéia que pode ser resumida no seguinte lema: "As leis naturais não são forças externas às coisas, mas representam a harmonia e o movimento inerente às próprias coisas". Note bem: essa frase não saiu de um livro de física. É um trecho do I Ching.

Entenda como funciona o I Ching

O método tradicional de consulta envolve 50 caules de milefólio - uma planta sagrada na China, que também era usada para fazer poções do amor.
A consulta com os caules é complicada e lenta, mas existe um método mais simples. Em vez de 50 varetas exóticas, ele requer apenas 3 moedinhas das mais comuns.

1- Sente-se voltado para o sul, de pernas cruzadas, respirando fundo.
Isso tudo é mero ritual - serve para aguçar a concentração, relaxar a alma etc. Se você é do tipo impaciente ou se tem alergia a incenso, não tenha pruridos e pule logo para o próximo item.

2- Tire 3 moedas iguais da carteira. Mentalmente, faça uma pergunta ao I Ching. As perguntas devem ser específicas, diretas e sérias. Nada de "qual é o sentido da vida?" ou "o que eu vou almoçar amanhã?" Chacoalhe as moedas e deixe-as cair sobre uma superfície lisa e rígida.

3- Olhe as moedas jogadas e faça um cálculo simples: cara é igual a 3, coroa é igual a 2. Some o número equivalente a cada moeda. O resultado será 6, 7, 8 ou 9. Anote o número no seu caderninho.

4- Terminada a operação, faça tudo de novo outras 5 vezes, sempre anotando o resultado. O hexagrama vai sendo montado de baixo para cima: a primeira conta vai definir a última linha do hexagrama, a segunda a penúltima e assim por diante.

5- No seu caderno, você terá uma seqüência de 6 números. Transformá-la em um hexagrama é fácil: 9 e 7
devem ser trocados por uma linha inteira (yang); 6 e 8, por uma linha partida (yin). (Como no fim há apenas duas formas de linhas, a conta poderia ser feita com apenas uma moeda. Utilizam-se 3 para definir padrões
mais avançados dos trigramas.)

6- Procure o hexagrama obtido na tabela do I Ching e leia os textos referentes. Os chineses osinterpretam como um conselho do Universo em relação a determinado problema. A questão é que o Universo, aparentemente, tem um certo gosto por falar em enigmas. Interpretá-los e desvendá-los é tarefa sua. Boa sorte.

O I CHING E A HISTÓRIA DA CHINA
Cinqüenta séculos de encontros e desencontros

Séculos 30 a 11 a.C.

CHINA
Descobertas arqueológicas mostram que a civilização chinesa surgiu nessa época, no vale de Henan, centro do país.
É quando aparece a agricultura, a escrita, a divisão de tarefas e até mesmo usinas rudimentares de fundição para fazer objetos e esculturas de bronze.

I CHING
Segundo a lenda, Fu Hsi encontra 8 símbolos (os trigramas) nas costas de um dragão, às margens do rio Amarelo, por volta de 3000 a.C. Uma variante do mito conta que o imperador compôs os signos a partir de observações da natureza.


Séculos 11 a 3 a.C.

CHINA
O território chinês é ocupado por diversos reinos pequenos que freqüentemente lutam entre si. Com a dinastia Chou, surgem condições para a unificação dos reinos. Começa um período de força cultural e filosófica, representado pelo filósofo Confúcio.

I CHING
Ganha interpretações dos seus 3 escritores históricos: o conde Wen, criador da dinastia Chou, seu filho, o duque de Chou, e o filósofo Confúcio. Nessa época, o I Ching se torna também uma espécie de manual utilizado pelos administradores do governo.

Séculos 3 a.C. a 2

CHINA
Os reinos são unificados, dando início à dinastia Qin. O imperador Qin Shi Huangdi é o primeiro da China unificada. Ele organiza o calendário, o sistema de escrita e inicia a Muralha da China. Ao morrer, é enterrado com 6 mil estátuas de terracota, os guerreiros de Xi'an.

I CHING
O imperador Qin manda queimar todos os livros e registros que não sejam sobre a sua dinastia. Mesmo assim, o I Ching sobrevive misteriosamente, ao contrário de vários textos importantes para a época, como alguns escritos pelo filósofo Confúcio.

Séculos 2 a 16

CHINA
As poderosas dinastias Han, Tang e Song protagonizam períodos de conflito e união. A China se torna uma das civilizações mais avançadas da época. Mas, no século 14, os mongóis conquistam o país: Kublai Khan, neto de Gêngis Khan, passa a governá-lo.

I CHING
Torna-se o clássico absoluto da civilização chinesa. Não serve apenas como um manual de adivinhação: vira uma explicação para tudo o que existe. No Ocidente, no entanto, ele continua sendo um ilustre desconhecido.

Séculos 16 a 18

CHINA
A dinastia Ming expulsa os mongóis. Enquanto isso, a Igreja Católica envia missionários da ordem dos jesuítas à China, que ficam fascinados pela cultura do país. A navegação se desenvolve e a Cidade Proibida, em Pequim, é construída.

I CHING
Pelas mãos dos jesuítas, o I Ching chega à Europa junto com os vasos Ming, que viram peças de coleção dos reis europeus. Na onda de artefatos exóticos chineses, a obra atrai eruditos como o cientista Wilhelm Leibniz. É o início do namoro entre o livro e o Ocidente.

Século 20

CHINA
Um levante popular derruba a dinastia Qing, a última da história da China. Em 1949, os comunistas estabelecem a República Popular da China, governada com mão de ferro e vigorando até hoje, apesar da aproximação cada vez maior do país com o capitalismo.

I CHING
Os comunistas banem o livro, que, apesar disso, continua sendo consultado em segredo. Anos depois, ele é reabilitado. No Ocidente, o I Ching vira superstar, assim como outras manifestações orientais. Inúmeras traduções surgem nas principais línguas ocidentais.

I CHING, O SUBVERSIVO

Depois do século 5 a.C., o I Ching deixou de ser só um manual de profecias e ganhou o título lisonjeiro de"clássico confuciano". No século 20, essa relação umbilical com o filósofo mais famoso da China se tornou perigosa e quase levou o I Ching à extinção. Em 1949, quando o Partido Comunista subiu ao poder, Mao Tsé-tung, ditador todo-poderoso, decidiu que a filosofia e a espiritualidade da antiga China imperial deviam ser ceifadas pela foice e o martelo da revolução. Nenhuma obra devia fazer sombra ao Livro Vermelho - a cartilha ideológica escrita por Mao. Confúcio foi uma das vítimas favoritas dessa caça às bruxas: sua filosofia foi declarada "burguesa" e "contra-revolucionária", dois palavrões horrorosos para regimes comunistas ao redor do mundo. Em 1966, o governo mandou apreender e queimar todos os livros relacionados ao velho Mestre Kung - e o I Ching entrou na lista negra. Agentes do governo confiscavam exemplares da obra às centenas e prendiam quem ousasse escondê-los. Mas, nas aldeias remotas, em cabanas perdidas nas montanhas ou em redutos secretos das grandes cidades, as varetas de milefólio continuaram a ser lançadas, como acontecera nos milênios anteriores. "Atacado, proibido e perseguido, o I Ching só não desapareceu na China por ter sido preservado na clandestinidade, pelo uso popular", conta o monge budista Gustavo Alberto Corrêa Pinto. Vendo que não podia vencer seus inimigos, o Partido Comunista resolveu unir-se a eles: na década de 1980, os governantes do país tiraram o confucionismo da ilegalidade e propuseram uma mescla entre os ensinamentos de Confúcio e Karl Marx. O I Ching saiu do índice dos livros proibidos e voltou ao panteão dos clássicos chineses.

O PSIQUIATRA BICHO-GRILO

Sentado no chão do pátio, à sombra de uma pereira centenária, o sábio lança varetas e consulta os oráculos do I Ching. Dia após dia, durante horas e horas, sem se cansar. "O Livro das Mutações é um ser vivo e em suas respostas podemos notar a marca de uma personalidade distinta", escreveu aquele intelectual alguns anos mais tarde, relatando suas experiências com o clássico.
A cena descrita acima não se passa na China antiga, mas em um pequeno castelo na cidadezinha de Bollingen, na Suíça, durante o verão de 1920. O sábio sentado no chão é o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung,umpioneiro no estudo do inconsciente humano no século 20. Jung, que de cético não tinha nada, acreditava que a mitologia e as religiões da Antiguidade podiam ajudar o homem a conhecer melhor sua própria alma. O psiquiatra sempre se interessou por filosofia oriental - mas foi nas férias de verão de 1920 que começou a lançar as varetas proféticas. Foi amor à primeira consulta. "Encontrei relações cheias de sentido entre o que diziam os textos dos hexagramas e meus próprios pensamentos - fato que eu não conseguia explicar a mim mesmo", conta Jung no livro Memórias, Sonhos, Reflexões. O fascínio do I Ching levou Jung a formular a teoria da "sincronicidade", segundo a qual, em determinadas ocasiões, paralelos emergem entre o mundo da mente e omundo real - paralelos que, segundo ele, a civilização ocidental chama de "mera coincidência". Para Jung, a coincidência não deve ser desprezada: o acaso, muitas vezes, faz sentido. A indicação de um determinado hexagrama pelo lançamento de varetas ou moedas pode parecer algo aleatório, mas também pode iluminar elementos ocultos no inconsciente de quem faz a consulta. Mesmo quando o sentido das frases é ambíguo e rarefeito, o simples ato de refletir sobre elas pode levar o paciente ao autoconhecimento. Jung testou sua teoria no consultório. Certa vez, tratava um jovem com complexo de Édipoque pretendia casar com uma mulher que lhe lembrava profundamente a própria mãe. O psiquiatra sugeriu que o paciente consultasse o I Ching - e o texto do hexagrama resultante era o seguinte: "A jovem é poderosa; não se deve casar com uma jovem assim". Pura coincidência? Talvez sim. Mas a terapia funcionou.

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terça-feira, janeiro 16, 2007

Acidente ou negligência? Só não pode dizer que foi uma fatalidade


Governo excluiu técnicos do Metrô da fiscalização das obras
Sindicato dos Metroviários denuncia que governo paulista atendeu à reivindicação das empreiteiras e, na licitação das obras, determinou que as próprias empresas fiscalizariam a construção da Linha 4.
Para os metroviários, contrato respondia ao projeto da privatização do sistema de transporte por meio da Parceria Pública Privada (PPP), cujo consórcio vencedor reúne empresas responsáveis pela obra, como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht
Renato Godoy de Toledo,
da Redação
O acidente nas obras da linha 4 do Metrô de São Paulo, na sexta-feira (12), que vitimou oito pessoas (duas delas já encontradas sem vida, as demais permanecem desaparecidas), pode ter sido resultado de um processo que vem sendo denunciado há muito pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
O consórcio Via Amarela, formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, venceu em 2003 uma licitação aberta pelo governo estadual, então liderado pelo tucano Geraldo Alckmin. A licitação, que permitiu ao consórcio executar as obras da linha 4 do metrô, foi feita no sistema "turn key", no qual a contratada é responsável por todas as etapas da obras. Sendo assim, o consórcio acumula as funções de execução da obra e de fiscalização, tanto técnica quanto financeira.
Desde sua fundação em 1968, esta é a primeira obra do Metrô em que o corpo técnico da empresa foi completamente alijado do processo. "Nossos técnicos têm reconhecimento internacional. Antigamente, a empreiteira era contratada e os técnicos do Metrô acompanhavam, dando aval ou não sobre os avanços da obra. Agora, somente quando as obras estiverem concluídas é que os técnicos terão acesso à sua estrutura", diz Manuel Xavier, diretor de comunicação do Sindicato dos Metroviários.
Xavier afirma que as empreiteiras costumavam se queixar do rigor dos técnicos do Metrô. "Eles trabalham com a lógica do mercado, evidentemente, querem o lucro, então tentam concluir tudo o quanto antes e com o menor custo", conclui Xavier.
Para o Sindicato, o processo de licitação para a execução da obra está vinculado com a licitação que prevê a exploração da Linha 4 pela iniciativa privada, por meio do regime da Parceira Público-Privada (PPP). O consórcio vencedor é composto por grupos nacionais e estrangeiros e inclui a participação de empreiteiras que também são responsáveis pela obra, como a Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht.
A exploração da linha 4 do Metrô por empresas privadas foi alvo de mobilização da categoria dos metroviários, contrária à privatização do sistema de transporte." O Metrô, e os demais transportes, são um bem público. Não podem ser submetidos à lógica do mercado", defende o dirigente sindical.
Tragédia anunciada
Outra obra do Metrô em andamento, a ampliação da linha 2 (que liga a Vila Madalena, Zona Oeste, ao Alto do Ipiranga, na Zona Sul), está sendo feita no sistema "antigo" de parceria, em que os técnicos orientam os funcionários da empreiteira. Nessa obra, nenhum acidente foi registrado, ao passo que na linha 4, sem contar o desabamento da última sexta-feira, já ocorreram dezenas de acidentes, com 11 operários feridos e um morto.
"Em março de 2005, quando ocorreram os primeiros acidentes, pedimos uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo para que o governo estadual e a direção da Companhia do Metropolitano (Metrô) explicassem o porquê de tantos acidentes, mas ambos acharam que a questão não era relevante", denuncia Xavier.
Após os primeiros acidentes, o sindicato pediu ao Ministério Público que investigasse as causas. As investigações foram iniciadas, mas, segundo Xavier, "não foram ágeis o suficiente para evitar a tragédia da última sexta-feira". Com o início das obras, algumas casas nas imedições do bairro de Pinheiros (Zona Oeste), sofreram afundamentos, rachaduras e até desabamentos parciais.
Cientes disso, no dia 28 de abril de 2006, os deputados estaduais Simão Pedro (PT) e Nivaldo Santana (PcdoB) enviaram à Procuradoria Geral da Justiça de São Paulo uma representação para a imediata apuração dos "danos à ordem urbanística", que colocavam em "risco a segurança, integridade física, saúde e vida" dos moradores da região. (www.brasildefato.com.br)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Donativos para os desabrigados pela chuva de Nova Friburgo

Associação Comercial recolhe donativos para os desabrigados

Alimentos e colchonetes são os itens de mais necessidade

A Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo – Acianf está promovendo uma campanha para recolhimento de donativos para as famílias desabrigadas decorrentes das fortes chuvas dos últimos dias. Quem puder doar alimentos não perecíveis, principalmente leite em caixa e biscoitos, roupas e colchonetes podem comparecer a Av. Alberto Braune, 111 – sobrado – no centro da cidade. A exemplo dos anos anteriores, a entidade sempre busca atender as pessoas que necessitam de ajudar nesses momentos de calamidade. Para o presidente da Acianf, Cláudio Verbicário, a Associação Comercial tem uma ótima articulação com a imprensa e com os seus 1.500 associados, sempre conseguindo ajudar a cidade, principalmente nesse período de fortes chuvas. “Estamos empenhados em apoiar no que for possível. O nosso Vice-Presidente de Turismo e Serviços, José Alexandre Almeida, está coordenando esta campanha e vamos solicitar também o apoio de vários empresários”, resume Verbicário.

José Alexandre está em contato permanente com a Secretária de Assistência Social do município, Maria José Vieira, e já mobilizou uma equipe de voluntários para em conjunto com a Secretaria dar atendimento às famílias mais necessitadas. “Estamos sempre a disposição da cidade para ajudar em momentos difíceis, sempre esperamos não ter que solicitar este tipo de apoio, mas em vista da situação que a cidade atravessa, temos um dever social de apoiar o próximo. Estou também mobilizando todo o setor de turismo para que contribuam também com as famílias”, explica José Alexandre.

Mais informações sobre outras formas de apoio basta entrar em contato com a Associação Comercial, pelos telefones (22) 2522.1145, 2533.0059 e 9225.7843